No dia 26 de setembro, é celebrado em todo o país o Dia da Pessoa Surda, uma data que vai além da dimensão comemorativa. É, sobretudo, um marco de luta e de mobilização para dar visibilidade às pautas dessa comunidade e fortalecer a defesa de direitos historicamente negados.
Em Sergipe, a atuação do Instituto Pedagógico de Apoio à Educação do Surdo de Sergipe – IPAESE tem sido referência no processo de inclusão, educação bilíngue e fortalecimento político da comunidade surda. Fundado em 2000, o IPAESE é a primeira e única escola bilíngue do estado, sendo também a única instituição da região Nordeste que oferece toda a Educação Básica voltada para crianças, adolescentes e jovens surdos.
Luta e visibilidade
Para a assistente social Mylena Silva, que atua no IPAESE, o 26 de setembro é um marco estratégico. “O Dia da Pessoa Surda tem um significado que ultrapassa a dimensão comemorativa, pois é, sobretudo, um momento de luta e de denúncia. Historicamente, a marginalização das pessoas surdas é resultado de um processo social que as excluiu da participação plena na vida política, econômica e cultural. Dar visibilidade à pauta da comunidade surda é fortalecer sua luta e evidenciar as contradições de um sistema que privilegia alguns em detrimento de outros”, destaca ela.
A assistente social do IPAESE, Mylena Silva
Avanços e conquistas
Apesar dos retrocessos recentes nas áreas de educação, saúde e assistência, Mylena reconhece conquistas fundamentais: a oficialização da Libras, a criação do curso de Letras Libras, a regulamentação da profissão de tradutores e intérpretes, além da expansão da presença desses profissionais em espaços públicos e privados.
Em Sergipe, o IPAESE também se destaca com a criação do Núcleo de Psicologia, Psicopedagogia e Serviço Social (NUPPSSI), em 2022, ampliando a oferta de atendimento pedagógico, psicológico e social, não apenas para alunos da instituição, mas também para a comunidade surda externa. “Esses avanços representam frutos da luta coletiva, mas ainda enfrentam os limites impostos por uma sociedade capitalista, racista, machista e capacitista, que naturaliza desigualdades e fragmenta políticas de inclusão. Por isso, precisamos estar em constante mobilização para não retroceder”, observa a assistente social Mylena Silva.
Desafios persistentes
Entre os desafios, a assistente social cita a precarização da escolarização, a falta de intérpretes de Libras nos serviços de saúde, a exploração de mão de obra em postos de baixa remuneração e as barreiras linguísticas que ainda limitam a participação política e social da comunidade surda. “Embora tenhamos conquistas, ainda enfrentamos barreiras comunicacionais e metodológicas na educação, ausência de intérpretes na saúde e desigualdades no mercado de trabalho. A verdadeira inclusão só ocorrerá quando enfrentarmos as raízes estruturais da exclusão”.
O papel do Serviço Social
Para Mylena, o compromisso ético-político da profissão é essencial nesse processo. “Nós, assistentes sociais, temos o compromisso de compreender a surdez como expressão da “questão social” e lutar para que a comunidade surda seja reconhecida como sujeito de direitos e protagonista de sua história. No IPAESE, essa luta é cotidiana, porque alia a prática pedagógica bilíngue ao fortalecimento político e social da comunidade surda”.
Compromisso do CRESS-SE
A presidenta do CRESS Sergipe, Dora Rosa Horlacher, reforça o engajamento da categoria com a luta da comunidade surda. “O Dia da Pessoa Surda é um chamado à sociedade e à nossa categoria para que se fortaleça a luta por inclusão, acessibilidade e justiça social. Defender os direitos da comunidade surda é também defender o nosso projeto ético-político, que se pauta na emancipação humana e no enfrentamento de todas as formas de exclusão”, ressalta.