No exato dia em que se comemora o Dia do/a Assistente Social, 15 de maio, centenas de estudantes e profissionais de serviço social que atuam nas mais diversas políticas públicas foram até a Faculdade Maurício de Nassau para debater a repercussão do corte de políticas públicas na vida da população, sobretudo a população pobre e negra e as mulheres, durante a abertura da Semana do/a Assistente Social 2019. Promovido pelo CRESS Sergipe, o evento trouxe o tema “Se cortam direitos, quem é preta e pobre sente primeiro”.
Durante o evento, foi lançada em Sergipe a campanha permanente “Serviço Social no Combate ao Racismo”, realizada pelo conjunto CFESS-CRESS. O objetivo é dialogar e incentivar os/as assistentes sociais a promover e intensificar ações de combate ao racismo em seu cotidiano profissional, dando visibilidade para ações que já ocorrem, bem como denunciar diferentes expressões de racismo, e valorizar a cultura negra.
“A população negra vivencia em maior proporção as expressões da questão social, com as quais nós assistentes sociais lidamos em nosso cotidiano. É a população negra que mais acessa os as políticas públicas, nosso principal espaço sócio ocupacional”, destacou Joana Rita Monteiro Gama, presidente do CRESS Sergipe.
“Mais do que orientar e dar encaminhamento e para que a população negra acesse seus direitos, precisamos superar práticas de racismo institucional, que infelizmente ainda são uma realidade. Estes são dois dos compromissos que nossa categoria deve ter e que estão assegurados no documento norteador da nossa profissão: o Código de Ética dos/as Assistentes Sociais”, completou a presidente do conselho.
Racismo estrutural
“O capitalismo se beneficia do racismo”. Foi com esta afirmação que a professora Tereza Cristina Martins, do DSS/UFS, iniciou sua palestra na Semana do/a Assistente Social 2019. Para exemplificar, destacou a pesquisadora, basta observar quem está nos serviços considerados mais desprivilegiados da nossa sociedade. “O racismo não é uma questão de ordem moral. Ele está na estrutura das relações sociais, mantidas pelo capitalismo, em especial o capitalismo Brasileiro”, completou.
Para ela, a compreensão da condição do negro na sociedade brasileira traz à tona dois aspectos fundamentais para o serviço social. “As demandas dos trabalhadores negros foram tratadas no âmbito do paternalismo ou como caso de polícia”, apontou, destacando que são justamente essas condições de trabalho que colocam a população negra como o principal público usuário das políticas públicas em que os assistentes sociais atuam.
Cenário de retrocessos
Após analisar a desafiadora conjuntura brasileira, marcada pelo desfinanciamento das políticas públicas como forma de reafirmar o caráter ultraliberal do governo federal e pelos retrocessos profundos no campo dos direitos sociais e trabalhistas, o também palestrante do evento e professor da UFG, Renato Paula apontou que no Brasil, vivemos um momento de ascensão do fascismo. “Uma das caraterísticas do regime fascista é quando os setores dominantes conseguem permear o Judiciário, pois isso dá um ar de legalidade ao que é ilegal”, avaliou.
Entre os aspectos destacados pelo professor como sendo simbólicos e que reafirmam a gravidade do momento conjuntural estão o pacote anti-crime, a proposta de reforma da previdência e os cortes orçamentários na política de educação, todos protagonizados pelo governo federal.
Priorizar o que nos une
O professor Renato Paula apontou alguns caminhos de organização para os/as assistentes sociais e para todo o campo progressista. “Precisamos construir uma unidade classista mesmo na diversidade. Não é o momento de priorizarmos o que nos divide, mas o que nos une. E o que nos une nessa conjuntura regressiva é a nossa luta pela sobrevivência”, apontou.
“Temos que fazer aquilo que não fizemos anteriormente com sucesso: politizar o debate sobre desenvolvimento com as bases”, concluiu, ressaltando que na atual correlação de forças, as narrativas estão sendo disputadas de várias maneiras, entre elas o uso de redes sociais e a disseminação de fake news por parte das elites no país.
Cultura e resistência
Entre a dança teatralizada e a pisada do samba de coco, a cultura do povo negro marcou a abertura da Semana do/a Assistente Social.
Entoando cantigas de resistência, o grupo de Samba de Coco do povoado Mocambo, em Porto da Folha, primeiro quilombo reconhecido em Sergipe, emocionou os presentes.
Já o Grupo de dança “Três raças”, formado pelos estudantes da Escola municipal João Paulo II, da comunidade Parque dos Faróis, em Nossa Senhora do Socorro suscitou na categoria a reflexão sobre o racismo estrutural sob o canto de conhecida canção de Clara Nunes que dá nome ao grupo.
Presenças
Muito representativa, a mesa de abertura do evento contou com a presença de movimentos sociais e sindicais, conselhos, poder público e instituições de ensino.
Em nome do movimento sindical, esteve presente a presidenta da FETAM e Diretora de Políticas Sociais da CUT, Itanamara Guedes; representando os estudantes, Caio Graccho, diretor da Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social (ENESSO).
Entre os conselhos de direitos, estiveram Adriana Lohana, vice-presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher e Ronaldo Feitosa Cruz, do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Esteve presente ainda o coordenador do Fórum de Religiões de Matrizes Africanas, Wellington Bomfim.
Representando as instituições de ensino, prestigiaram o evento a professora Vera Núbia, da Coordenação do Programa de Pós Graduação em Serviço Social da UFS; a coordenada do curso de Serviço Social da UNINASSAU, Ana Luiza Melo de Almeida; e Charles Apolinário, da Pós graduação da UNINASSAU.
Do poder público o evento contou ainda com a presença da gerente de igualdade racial da Semfas/Aracaju, Laila Thaíse; e da Diretora de Direitos Humanos da Semfas/Aracaju, Lidia Anjos.
Ato público em defesa da educação
Este dia 15 de maio foi também marcado em todo o Brasil pela Greve Nacional da Educação contra os cortes de recursos para a educação pública e em defesa da aposentadoria.
Como forma de marcar a data, Sergipe construiu um ato público histórico, que mobilizou milhares de professores, estudantes e servidores da educação pública em todos os níveis: federal, estadual e municipal. Ao lado de assistentes sociais da base, conselheiros do CRESS Sergipe acompanharam o ato, que percorreu as ruas do centro da capital.